De Schumpeter a Nostradamus: o Mercado e a Profecia do Engano — Os 3 vencedores do Nobel de Economia em 2025 parecem confirmar o que os profetas apenas pressentiram: que o fim não viria pela escassez, mas pelo excesso de fé no mercado e da cegueira diante do real
O Prêmio Nobel de Economia de 2025, concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, celebra o poder da “destruição criativa” — a velha metáfora schumpeteriana, segundo a qual o progresso nasce do colapso. É a redenção renovada do incêndio: para inovar, é preciso deixar o velho queimar. Mas o que eles não dizem — e o que transforma seu otimismo em cegueira — é que, no século XXI, a destruição criativa migrou do campo econômico para o campo informacional. O motor do crescimento já não é apenas a invenção de tecnologias, mas a destruição das certezas, a obsolescência programada da própria verdade.
Eis a distorção capitalista que os nobéis não ousam tocar: a inovação atual não destrói apenas produtos ou empresas, mas a confiança coletiva, a coesão social e a capacidade de discernimento. O capital aprendeu a lucrar não com o conhecimento, mas com a ignorância fabricada — e isso é o que podemos chamar de a besta da desinformação, o grande anticristo do século XXI, o qual Nostradamus errou na forma (pessoa) e não no conteúdo (engano).
Considerado um dos mais influentes economistas da primeira
metade do século XX, Joseph Schumpeter via na inovação o motor virtuoso do
capitalismo — a força que renovaria o sistema ao destruir o velho e abrir
espaço para o novo. Em 2025, Mokyr, Aghion e Howitt reinterpretam esse impulso
como se o capitalismo fosse uma lei da natureza, um fenômeno espontâneo, quase
botânico — algo que simplesmente brotasse da terra, bastando “boa gestão” para
florescer. Você não acredita nisso, não é mesmo?
Mas o que os três laureados de economia parecem ter ignorado é o desvio genético do sistema que herdaram: no capitalismo de dados, a antiga “destruição criativa” transmutou-se em "enganação criativa" — uma engrenagem que "não inova", apenas reinventa as formas de extrair valor do colapso, da vigilância e da manipulação algorítmica. Eis alguns pontos que passaram em brancas nuvens:
1.
A nova tecnologia não substitui o velho — o manipula e o reprograma.
2.
A inovação não emancipa — captura a atenção e transforma a informação em autodestruição coletiva.
3.
O algoritmo é o novo “mercado”, e seu produto é o colapso cognitivo em escala global.
Os economistas laureados continuam tratando a inovação como
uma força moralmente neutra — um motor autônomo do progresso — quando, na
prática, ela já foi há muito colonizada pelo capital da desinformação, que há
pelo menos uma década remunera mais a histeria, o medo e o ódio do que qualquer
fábrica de ideias.
Mokyr, Aghion e Howitt, ao venderem a fé no “capitalismo
infalível”, reproduzem o mesmo otimismo ingênuo que Harari empacota em Homo
Deus: o de que a tecnologia é um caminho inevitável rumo à salvação, e não uma
arena de poder, dominação e controle simbólico. Para ilustrar esse delírio
tecnocrático, o pensador marxista Mark Fisher resumiu a tragédia contemporânea
em uma frase que já virou epitáfio da esperança: “É mais fácil imaginar o fim
do mundo do que o fim do capitalismo.”
Seu diagnóstico atravessa o tempo com precisão cirúrgica: vivemos uma prisão psicológica e simbólica que transformou o capitalismo em único horizonte possível, limitando até mesmo nossa capacidade de desejar algo novo que não carregue a marca dos “capitalistas ingênuos”. Hoje, imersos num metaverso de polarizações e simulacros, o próprio capitalismo parece ter se tornado uma caricatura de si mesmo.
O próprio capitalista baseado no tarifaço já está imerso
dentro uma bolha cognitiva que acredita na própria eternidade, incapaz de
conceber um universo fora de si mesmo. A “inovação”, nesse contexto, não
emancipa: apenas atualiza as algemas. Logo, já vivemos imersos dentro de uma
besta digital: a máquina de devorar realidades... A “besta da desinformação” é
o sistema que transforma mentira em ativo financeiro. É o mesmo ciclo
schumpeteriano, mas aplicado à consciência:
• o novo (falso) destrói o velho (verdadeiro),
• e a eficiência se mede em engajamento,
• não em entendimento do que é realidade.
Esse ciclo retroalimenta o capitalismo cognitivo e cria um tipo de crescimento econômico baseado na entropia moral — mais atenção, mais cliques, mais lucro — enquanto a realidade implode dentro e fora de nós. Os laureados de economia de 2025 explicaram como crescer com inovação, mas não como sobreviver à própria inovação baseada na besta da desinformação sistêmica.
Parecem ter ignorado que, no século da inteligência artificial, a verdadeira “destruição criativa” não é a das indústrias — é a do próprio real. O mesmo motor que impulsiona o crescimento também alimenta o apocalipse informacional que nos cerca, como se vivêssemos os últimos dias dos Neandertais na Terra. Com uma diferença essencial: nossos ancestrais não dominavam a linguagem — essa mesma que hoje subvertemos e entregamos aos algoritmos.
Mokyr, Aghion e Howitt estudaram o motor, mas ignoraram o incêndio: o mesmo que queimou R$ 76 bilhões em bitcoins fraudulentos por um empresário do Camboja. Celebraram o criador, mas deixaram escapar a besta — aquela que Nostradamus errou ao prever como um homem do mal, quando, na verdade, é um sistema global que engana a própria linguagem que um dia fez o homem triunfar no crepúsculo dos Neandertais. Acesse nosso LinkedIn.
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