As 10 fagocitoses em curso no Brasil: empobrecendo, enriquecendo, erotizando, multando, taxando...
Etimologia da palavra ligada à Biologia: fagocitose, do grego phagein (comer) + kytos (célula). É o processo biológico em que amebas e glóbulos brancos engolem partículas — uma metáfora perfeita para descrever como certas forças sociais, políticas e tecnológicas devoram tudo ao redor.
1ª fagocitose — a política extremista O jornalista Reinaldo Azevedo foi certeiro: a família Bolsonaro fagocitou o centrão e grande parte da direita, transformando quase todo o país numa extrema-direita envergonhada. E para dar uma ajudinha aos novos sacanas, o centrão fagocitado vai ajudar a aprovar o fundão eleitoral ainda mais gordinho: 5 bilhões de reais! Não por convicção, mas por absorção forçada. O que restou da esquerda se resume a um Lula cada vez mais preso ao seu próprio vernáculo em extinção. Não que eu queira...
2ª fagocitose — o crime organizado
O PCC fagocitou uma enorme parte do aparato judicial, policial — e até financeiro ali na santificada Faria Lima. Servidores do Estado, muitas vezes sem perceber, operam como extensões de uma das maiores facções criminosas da América Latina. Haja vista a morte ecomendada do ex-delegado de São Paulo e do empresário dedo-duro do PCC. A lei, que deveria conter o crime, passou a gravitar ao redor dele. Basta lembrar a recente “derrama” de bebidas batizadas com metanol: lucro imediato para uns, cegueira e morte para outros.
3ª fagocitose — a cidade como pedágio
As prefeituras transformaram as cidades em jogo mobiliário ou banco mobiliário fagocitando o trânsito e a mobilidade urbana. Multas e restrições se tornaram máquina arrecadatória, matando o direito constitucional de ir e vir (Art. 5º, XV, da CF/88). O cidadão pobre, dos 3 salários mínimos, perdeu não só tempo, mas dignidade. Alguém ainda se pergunta por que faltam motoristas de Uber? Seria “pelo trânsito mais seguro” ou pelo bolso da máquina pública? Tudo dentro da lei... Maravilhoso! E ninguém ousa falar das tais escandalosas falhas de políticas públicas de Estado...
4ª fagocitose — cartórios como fonte de água morta
Cartórios e taxas viraram pseudópodes arrecadatórios da burocracia. Enquanto isso, no Congresso se discute reduzir o pro labore dos donos de cartorários — um privilégio medieval que nunca deveria existir em um país onde 90% recebem menos de 3 salários mínimos. A meritocracia, como sempre, serve de máscara: 10% mais ricos abocanham 15,5 vezes a renda dos 90% paupérrimos. 5ª fagocitose — as inteligências artificiais
As IA’s fagocitaram a internet, transformando-a em um oceano de lama algorítmica. Agora, tudo depende de prompts — comandos que ditam a direção da humanidade. Mas quem escreve esses comandos? A resposta é o novo poder invisível. O outrora poderoso Google, com seu YouTube de monetizações extremistas, começa a perder hegemonia. Seria um alívio? Não. É apenas a troca de um império digital por outro, igualmente opaco.
6ª fagocitose — as redes sociais
As redes sociais fagocitaram a sociabilidade. Reduziram encontros, assembleias e projetos comuns a curtidas e descurtidas, a polarizações instantâneas. Pela primeira vez na história, a humanidade trocou seu poder de se reunir para construir futuro por um teatro de separações no estilo “lei Magnitski”: listas negras digitais que apartam, punem e cancelam.
7ª fagocitose — o culto ao corpo sarandaço As academias fagocitaram a saúde pública e se converteram em templos de hedonismo diurno. Entre espelhos e selfies, o exercício virou pretexto para uma sociabilidade sexualizada, reminiscência do circo romano. A promessa de bem-estar se dissolveu em mercado da vaidade. O ideal de bem-estar tramsformou as academicas em gaiolas do job? Deve-se elevar a faixa etária a partir dos 18 anos nesses ambientes?. 8ª fagocitose — o culto à saúde de mentirinha
As chamadas “canetinhas do emagrecimento” — celebradas como a maior revolução terapêutica em um século — foram fagocitadas pelo poder econômico. O prefeito do Rio chegou a prometer a distribuição gratuita pelo SUS para os mais pobres da cidade. Mas a realidade é outra: o mesmo SUS, que se mostra incapaz de prover esse tratamento básico, garante acesso a medicamentos caríssimos contra o câncer — acessíveis sobretudo aos 15,5 vezes mais ricos. Saúde pública virou um palco desigual de promessas vãs e privilégios garantidos.
9ª fagocitose — o tokenismo simbólico sacana
As amebas do tokenismo fagocitaram a ideia de inclusão dos negros e não tão negros assim. A diversidade virou peça de marketing: cartazes coloridos, discursos polidos, vagas simbólicas em programas de TV. Mas nada toca a estrutura — nem recrutamento, nem carreira, nem acessibilidade real, haja vista as vagas de mentirinha aqui no LinkedIn... Não é inclusão, mas sim a encenação dela. O oposto da transformação, o oposto da justiça: diversidade de fachada, exclusão de concreto.
10ª fagocitose — o bullying ao Housing First
O conceito de Housing First (“moradia primeiro”) propõe algo radical e simples: dar casa antes de exigir qualquer outra condição. Uma política pública comprovadamente eficaz contra a população em situação de rua, alternativa aos albergues que impõem barreiras e humilhações. No entanto, em cidades como Belo Horizonte — que já recebeu volumosas emendas impositivas — a fagocitose institucional opera. Recursos abundantes convivem com pessoas em situação de rua ainda amontoadas na rodoviária, bocas abertas ao vento. O discurso da prioridade dissolveu-se em cinismo burocrático. A verdadeira prioridade é arrancar dinheiro: primeiro, nas ruas, com a indústria de multas; depois, com a ajudinha das rádios FM que interrompem a música para avisar onde está a próxima blitz; e, por fim, nos intervalos da TV, transformando a mobilidade urbana em espetáculo de arrecadação.
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