Até que ponto é plausível que exista uma conexão — direta ou indireta — entre Steve Bannon, estrategista do trumpismo, e o pesquisador brasileiro Geraldo A. Seabra, criador da Teoria dos Newsgames?
A pergunta foi submetida a três inteligências artificiais — a do X (antigo Twitter), ChatGPT e DeepSeek — até que ponto Steve Bannon, mentor do trumpismo, poderia ter "plagiado" ou se inspirado em teses da Teoria dos Newsgames, desenvolvida pelo professor e pesuisador brasileiro, Geraldo A. Seabra. Contudo, embora pareça improvável, não pode ser totalmente descartada.
Do ponto de vista objetivo, os três prompts foram uníssonos em dizer que é quase impossível quantificar a probabilidade de Bannon ter acessado diretamente os artigos de Seabra no Blog dos Newsgames blogdonewsgames.blogspot.com.br, no ar desde 2007. A disseminação de ideias na esfera digital é complexa e frequentemente indireta, especialmente quando envolve conexões intelectuais não explícitas entre teorias acadêmicas, produção midiática alternativa e estratégias de manipulação política. Sabe-se, porém, que Bannon é um consumidor voraz de teorias marginais, textos não convencionais e experimentos digitais que possam ser adaptados para engajamento e mobilização social, como os publicados pelo pesquisador brasileiro.
Um contato indireto com conceitos semelhantes aos de Seabra, portanto, não pode ser descartado, embora não haja evidências concretas que confirmem tal acesso. Interpretativamente, nota-se uma convergência conceitual relevante entre as formulações de Seabra, desenvolvidas desde 2003, e a estratégia de Bannon. Seabra propõe que as redes sociais operam como newsgames, integrando informação, mecânicas lúdicas e narrativas políticas; Bannon, por sua vez, tratou eleições e disputas públicas como jogos de guerra cultural de massa. A lógica é análoga: cidadãos como jogadores, narrativas como missões, adversários como inimigos a serem derrotados, e a própria democracia transformada em tabuleiro.
Enquanto Seabra elaborou essa perspectiva como crítica de ação e dissuasão política, alertando para a colonização das redes pela cultura do jogo noticioso baseado em RPG, Bannon operacionalizou-a como tática, explorando vulnerabilidades psicológicas e emocionais dos usuários. Como pesquisador, Seabra desenvolveu o conceito de newsgames de maneira distinta à dos autores norte-americanos, para quem o termo estava inicialmente vinculado a formatos jornalísticos inovadores, e não à gamificação política via RPG. Seabra introduziu uma perspectiva integrada, incorporando os três pilares da notícia tradicional — produção, circulação e consumo — dentro da mesma plataforma.
Sua produção editorial e acadêmica, majoritariamente em português e veiculada em blogs especializados e meios acadêmicos do jornalismo digital brasileiro, não apresenta sinais de tradução ou impacto direto no contexto anglo-americano. No entanto, dada a natureza global das redes digitais, não se pode descartar completamente a possibilidade de algum contato indireto de Bannon ao trabalho do pesquisador brasileiro. Bannon, por outro lado, tem trajetória na interseção entre games, economia virtual e política. Na década de 2000, atuou na Internet Gaming Entertainment (IGE), empresa voltada a economias de MMORPGs como World of Warcraft, onde engajou comunidades de jogadores que posteriormente foram mobilizadas em movimentos de direita alternativa via Breitbart News.
Durante o Gamergate (2014), instrumentalizou fóruns de games como arenas de disputa política, transformando plataformas digitais em ferramentas de guerra cultural gamificada. Embora Bannon esteja envolvido com games e estratégias de engajamento político desde os anos 2000, sua consolidação como operador capaz de eleger Trump ocorreu apenas em 2016.Nesse contexto, a Teoria dos Newsgames, circulando desde 2007, poderia ter fornecido elementos conceituais relevantes para compreender e explorar a lógica das redes sociais como jogos políticos. Ainda que não haja evidência de influência direta, a coincidência temporal sugere que ideias críticas sobre gamificação da informação já estavam disponíveis no ecossistema digital, podendo ter sido assimiladas de forma indireta por atores interessados em mobilização política.
De qualquer modo, existem paralelos conceituais entre Bannon e Seabra — ambos entendem as redes como ambientes interativos e narrativos que moldam a política como um "jogo político" —, Bannon parece ter baseado suas estratégias principalmente em experiências práticas com comunidades gamers, táticas de marketing digital e influências de pensadores estratégicos como Lenin e Maquiavel.Em síntese, as três IA’s reconhecem a semelhança entre as ideias de Seabra e as práticas de Bannon, mas destacam que isso reflete um fenômeno ainda mais amplo: teorias críticas podem ser reapropriadas e ressignificadas por agentes políticos, mesmo sem qualquer influência direta.
O que surgiu como alerta acadêmico pode, inadvertidamente, servir de base para manuais de operação estratégica em diversos campos. Assim, a probabilidade de influência direta permanece baixa e especulativa, mas a convergência de ideias evidencia como a lógica da Teoria dos Newsgames antecipou mecanismos que hoje são amplamente explorados na manipulação social contemporânea.Podemos chamar isso de bullying acadêmico global? Sim. Não é novidade, mas se intensificou na era da hiperconectividade: ideias produzidas na periferia, muitas vezes com ousadia teórica e risco pessoal, são absorvidas por centros de poder acadêmico e político sem qualquer reconhecimento. É um colonialismo intelectual disfarçado de "livre circulação do conhecimento" — basta lembrar o treinamento de IA’s, que quebrou direitos autorais para que big techs lucrassem bilhões.
Grandes universidades e estrategistas globais se apropriam de conceitos, frameworks e até de narrativas inteiras de pesquisadores desconhecidos, principalmente de países periféricos, apagando suas origens. O resultado é perverso: o Norte segue acumulando prestígio, financiamento e poder, enquanto o Sul permanece como “laboratório anônimo” de ideias. Steve Bannon é um caso exemplar dessa engrenagem. Ele opera como reciclador de teorias e narrativas alheias, muitas vezes sem citar, sem reconhecer, transformando conhecimento em munição ideológica. O gesto não é só desonesto: é violência simbólica. Toma-se o esforço intelectual do outro, despoja-se de sua genealogia e devolve-se ao mundo como se fosse revelação própria.Esse processo corrói o que deveria ser a base da ciência e do debate público: a construção coletiva e transparente do saber. O silêncio sobre as fontes não é esquecimento — é projeto político da extrema direita e de seus prepostos forjados em fábricas de gangsters. Acesse a rede social de Geraldo A. Seabra.
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