Chega ao fim modelo narrativo que marcou industrial cultural do século 20


A notícia da morte de Michael Jackson certamente provocará um estrago muito maior na industrial cultural que a dor de sua perda pode gerar a milhões de fãs espalhados ao redor do mundo. O menino prodígio do estado de Indiana (EUA) derrubou todas as fronteiras geográficas do planeta com um novo jeito de fazer pop art. Em 1982, lançou Thriller, dirigido pelo cineasta Martin Scorsese. O álbum genial vendeu 106 milhões de discos, marca jamais alcançada por outro ídolo pop. Mas foi na TV que Michael Jackson inventou uma nova linguagem midiática. Com efeitos especiais, coreografias criativas, passos de dança desconcertantes, performance cênica, direção de arte de ícones do cinema, MJ reinaugurou a era dos videoclipes. Conseguiu traduzir a música na forma audiovisual – a imagem como centro da vida cotidiana. Desde então, é a pura tradução do que se pode chamar de uma bricolagem cultural numa época em que a cultura de massa dava seus primeiros passos rumo à convergência de todas as culturas. Dançando Billie Jean, ou cantando em Off the Wall, Michael anunciou ao mundo um novo formato de produção midiática, fórmula copiada ainda hoje por divas como Madonna e Beyonce. Mas esse modelo narrativo chegou ao fim, não por esgotamento, mas em função das profundas mudanças na forma de distribuição e apresentação do produto. Se antes o modelo de arte era sustentado em plataformas hierarquizadas e centralizadas, agora pode ser consumido como fast food, a hora e o lugar que quiser. Quem determina o consumo não é mais a indústria cultural, mas o desejo das nanocomunidades de compartilhamento de dados. Por meio das tecnologias per-to-per, RSS, streaming, essas microcomunidades determinam o que será consumido. Afinal, o conteúdo é mais importante que o autor da obra. Juntas, as novas tecnologias deram um tiro certo na arrogância da indústria cultural, personificada na imagem distorcida e decadente de MJ. Não se iludam com a mega vendagem pós-mortem do artista. Tudo não passa de death marketing, ou marketing da morte, em um bom português!

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